Primeiramente queria agradecer a todos os participantes. Foram 15 participantes ao todo! Segundo, queria me desculpar pela má organização da tarefa... eu sei que poderia ser muuuito melhor, mas ocorreram alguns imprevistos. Terceiro, planejei dois pequeno presentinhos para vocês que participaram efetivamente da gincana: um marcador de livro personalizado pelo Juventude Literária, que vocês podem copiar e imprimir em casa, ou em alguma gráfica, e um código especial, que será útil em breve. Se vocês pensaram que as surpresas acabaram, estão bem enganados!
A notícia ecoou pelos campos e reinos distantes. Despertou os pássaros, espantou os peixes, desnorteou os insetos e provocou os deuses. Cada grão de areia estremeceu, cada brisa oscilou, cada chama vacilou e dizem que até a água das cachoeiras longínquas mudou seu curso.
Naquele dia, a Dádiva da Deusa brilhou novamente em Hynneldor. Teve início, então, uma época de reconstrução e prosperidade. A terra tornou-se fértil novamente, trazendo boas colheitas, e o reino mudou, voltando a ser verde e florido. As pessoas se lembraram de quem realmente eram, e passaram a valorizar as coisas mais importantes na vida, como a amizade, a saúde, a lealdade e, principalmente, o amor. Por causa da fertilidade no reino e da renovação interior compartilhada por todos, após sua coroação, Flora ficou conhecida como A Rainha da Primavera. Não se sabe o que ela fez depois disso, pois os registros se perderam com o passar dos séculos. Alguns dizem que retornou à Ilha de Ashteria, outros, que passou o resto de seus dias ao lado de Dimitri Fahd. Há ainda quem defenda que seu medalhão foi recuperado e Nathair pagou por tudo o que fez, mas isso não pode ser comprovado, já que o medalhão também se perdeu. A única certeza que se tem é de que a felicidade reinou naquele dia, e por muitas primaveras depois. – NÃO! – Flora gritou, enquanto a espada de Brodderick Carnell descia, em alta velocidade, em direção ao pescoço de Fausto Valaskes. Mas seu grito foi abafado por uma voz juvenil: – PELA PRINCESA! Antes mesmo que a espada atingisse seu objetivo, Brodderick Carnell interrompeu o golpe e se virou violentamente, lançando uma cotovelada para trás. Só então Flora percebeu o recém-chegado. Era um garoto, não devia ter mais que quinze anos. Chegou sorrateiramente enquanto toda a atenção estava voltada para o príncipe Fausto, e, no momento exato, perfurou as costas de Brodderick com seu pequeno punhal. Mas aquilo não seria suficiente para aniquilar o general inimigo, e agora o rapaz jazia inconsciente, depois de tomar uma cotovelada de Brodderick, que o arremessou a metros de distância, batendo a cabeça na parede de pedra do castelo. – O que significa isso?! – Brodderick ficou boquiaberto perante a valentia do pequeno e insignificante aldeão. De seus comandados, o mais velho se aproximou a fim de dar cabo à vida do garoto, mas, no momento em que o faria, uma foice voou em sua direção e ele precisou se esquivar. Em pé sobre o parapeito da sacada, um fazendeiro brandia seu forcado. Não possuía treinamento militar, mas braços fortes para escalar a hera que recobria a parede abaixo da sacada, e coragem para enfrentar a morte, se preciso, na defesa daquilo em que acreditava. – PELA PRINCESA QUE DÁ A VITÓRIA A HYNNELDOR! – Gritou ele, e jogou-se sobre o soldado mais velho. O homem logo foi morto, mas outros surgiram do mesmo lugar. Eram lavradores, comerciantes, oleiros, que, ao descobrir o retorno da princesa, perderam o medo, desistiram da fuga e retornaram para enfrentar os inimigos. Homens recolheram as espadas abandonadas em campo de batalha, mulheres e crianças se armaram de paus e pedras. Uniram-se, todos, e serviram de reforços aos soldados remanescentes. Isso deu a Flora a oportunidade de se aproximar de Fausto e fazê-lo levantar-se. Ao seu lado, um grupo de pescadores afastava dela os inimigos que tentavam se aproximar. Mas não era uma tarefa fácil, e muitos morreram carbonizados pelo fogo mágico criado pelos soldados de Vulcannus. Irritado, Brodderick arrancou de suas costas o punhal ensanguentado e, em suas mãos, criou uma flama tão poderosa que derreteu a arma em instantes. Enquanto a batalha entre soldados e homens do povo se desenrolava ao seu redor, caminhou sem pressa até o menino que tanto o incomodara. Ele agora estava retomando a consciência, mas, se dependesse de Brodderick, não seria por muito tempo. Enquanto ele pensava em uma morte dolorosa para o garoto, Dimitri surgiu em sua frente. Metade de seu rosto estava banhado em sangue, andava com dificuldade e fraquejava ao segurar uma única espada na mão esquerda, em posição de defesa. – Terell, você vive me dando trabalho... – Disse ele ao garoto, em um tom melancólico. – Fuja daqui e volte para casa, ou Malve vai me matar! – Quando me contou que você veio pra cá, a minha mãe sabia muito bem que eu te seguiria. – retrucou ele. Abaixo da sacada, toda a cidade voltou a se agitar. A descoberta do retorno da princesa desaparecida trouxe a Amitié um novo sopro de esperança, e os habitantes abraçaram com todas as forças sua única chance de criar para si um novo futuro. Bastava uma pequena brisa morna, e todos os corações se encheram de coragem e fé. Soldados caídos se levantaram, e aqueles que já haviam se rendido ao destino encontraram um novo motivo para acreditar na possibilidade de vitória. Os que ainda estavam livres voltaram a lutar com todas as forças, e aqueles que já haviam sido capturados se rebelaram contra as correntes, ampliando barulho que tomou conta da cidade. E o exército de Vulcannus pela primeira vez estremeceu frente a um inimigo que, aparentemente derrotado, voltava a se reerguer. Brodderick não podia estar mais desgostoso. Ele sentia prazer em lutar uma batalha desafiadora, é verdade, mas naquele dia já contava com uma vitória fácil. Sem cerimônia, Brandiu sobre Dimitri um golpe rápido de sua espada de fogo. O príncipe de Datillion protegeu-se como pôde, usando sua espada de metal, já muito suja e desgastada da batalha. Mas seu braço, enfraquecido, não suportou o esforço, e sua espada vibrou com violência e foi lançada para longe. – Terell, corra. – Ele disse, ofegante, com os olhos fixos em Brodderick. A poucos metros de distância, Flora pôde ver a expressão desafiadora do príncipe de Datillion. Mesmo derrotado, ele se opunha a Brodderick como uma sólida muralha, permitindo, assim, que o menino fugisse na confusão da batalha ao redor. Ela sabia que o próximo golpe de Brodderick poria fim à vida de Dimitri. E sabia, também, que seu coração não permitiria isso. Então Flora correu em direção a ele. Se alguém perguntasse, ela jamais saberia responder o porque de fazer isso. Tudo o que sabia é que era o certo, que ela não poderia assistir à morte de seu protetor e permanecer de braços cruzados. E no momento em que a espada de Brodderick Carnel cortou o ar mais uma vez, ela estava lá, e se jogou na frente de Dimitri, de braços abertos, pronta a receber o golpe em seu lugar. O grito de Dimitri ficou entalado na garganta, mas seus olhos se arregalaram em incredulidade. Existem momentos que parecem durar uma eternidade, e foi isso que sentiu. Em uma fração de segundo, pôde ver cada uma das pequenas fagulhas que formavam a espada crepitante, e que se aproximavam perigosamente de Flora. Viu a pele alva da princesa, que se avermelhou com a proximidade do fogo, e sentiu o calor escaldante. Seu coração se apertou quando pensou em perdê- la, depois de tanto sofrimento, tanto suor e tanto sangue derramado na tentativa de encontrá-la, e ao pensar em como nunca mais poderia tê-la na garupa de seu cavalo, ou sentada a seu lado em uma carruagem. Ela era tão jovem, e possuía tantas dúvidas tolas... Mas ele já havia se habituado a ela, e a impossibilidade de salvá-la mais uma vez fez com que uma lágrima lentamente escapasse de seus olhos. Porém, de tudo o que viu naquele momento, há algo que jamais esqueceria. Os fios de cabelo de Flora, tão negros que nem a luz avermelhada da espada de Brodderick poderia tirar- lhes a cor, gradativamente começaram a se agitar, impelidos por uma súbita rajada de vento. As mechas foram jogadas de um lado para outro, e de repente Dimitri se viu dentro de um ciclone. E quando a espada finalmente atingiu a pele de Flora, em vez de feri-la, se dissipou. Brodderick, pronto para suportar um impacto que não veio, perdeu momentaneamente o equilíbrio e cambaleou para o lado. Sua espada de fogo foi totalmente varrida de suas mãos pela violenta ventania que se lançou sobre ele, e no mesmo instante ele soube que aquele não era um vento comum. Flora fechou os olhos e, de braços abertos, deixou-se envolver pelo vento que a descabelava, acariciando sua pele e preenchendo o vazio em seu espírito. – Você conseguiu, está novamente com Zyria! – Dimitri vacilava entre a incredulidade e o encantamento. – Sim – respondeu Flora, abrindo os olhos. – Zyria, a deusa de todas as formas de amor. Onde mais poderia encontrá-la, se não dentro de mim mesma? Flora levantou as mãos e, a seu comando, o vento arredio e sem rumo logo se ordenou. Formou uma poderosa esfera de vento que englobava a si e a Dimitri. Os perigos de fora não mais poderiam ameaçá-los. Por mais que tentasse, Brodderick não conseguia recriar a espada flamejante. O poder mágico naquele lugar era forte demais e não deixava brecha para forças rivais. No chão, foices, serras, machados e forcados se misturavam aos cadáveres e dificultavam a busca por uma espada. E, antes que pudesse se recuperar do susto e encontrar uma arma adequada, Brodderick sentiu seu peito se partir, quando seu coração foi atravessado por uma foice. Uma reles foice, mas que era empunhada por Fausto Valaskes. – É o seu fim. – Disse Fausto, quando torceu a foice dentro de Brodderick e a puxou ferozmente, banhando-se com o sangue do inimigo derrotado. Lentamente, Brodderick caiu no chão. Ao mesmo tempo, Flora dissipou sua barreira protetora, espalhando o vento mágico para todos os lados. Por toda Amitié, o exército de Vulcannus foi subjugado pelos habitantes de Hynneldor, que vibravam e celebravam, bradando o nome da princesa revelada, enquanto os raios do sol nascente anunciavam o início de um novo dia. Tarefa Encerrada.Flora atravessou inúmeros corredores escuros da masmorra, até que, ao fim de um lance de escada, a luz da lua minguante a cegou momentaneamente. Estava fora do calabouço, em um salão iluminado do castelo. Ali, tudo o que encontrou foi morte e destruição. Por onde quer que passasse, via corpos inertes, tanto dos guardas do castelo quanto do exército inimigo, o rico mobiliário do castelo transformado em várias grandes fogueiras, e o assoalho coberto de cinzas. Ao tentar retornar por onde viera, ela viu seu caminho barrado por uma intensa batalha que se desenrolava entre os atacantes que haviam invadido pela masmorra e os poucos defensores que tentavam se reorganizar após o ataque surpresa. Impedida de prosseguir, esgueirou-se pelos salões adjacentes por um longo tempo, até que finalmente alcançou uma entrada para o grande Salão dos Quadros. Estava pronta para adentrá-lo, quando ouviu vozes. Então recuou, se espremeu no corredor lateral onde estava e se esforçou para ouvir e tentar descobrir quem estava lá dentro, mas ela não conhecia a maioria das vozes que ali se projetavam. – Alteza, é inútil! Precisamos nos render, ou estaremos condenados! Brodderick Carnell já nos derrotou, a Sala do Trono está repleta de seus soldados. O próximo passo será riscar Amitié do mapa! – Mas aonde nossa rendição nos levará? De um jeito ou de outro, ele nos matará a todos! – O que ele realmente deseja é resistência! O único propósito dessa guerra é satisfazer seus caprichos de glória em campo de batalha, e não podemos mais lhe dar esse prazer! – Calados, todos. – Flora reconheceu a voz de Fausto Valaskes. – Minha esposa já foi levada? – Sim, Vossa Alteza. Ela conseguiu escapar com seus filhos. Estão se dirigindo à Fortaleza do Gelo, nas Grandes Montanhas. De onde estava, Flora conseguia ver o vitrais das portas que levavam a uma grande sacada e davam vista à guerra que se desenrolava. As defesas foram ineficazes e a cidade ardia, em inúmeros focos de incêndio que iluminavam a noite. Os poucos guerreiros remanescentes de Hynneldor caíam, um a um, enquanto os simples moradores da cidade eram presos a correntes de ferro e levados, em fila, para servirem como escravos. – Senhores, este castelo resguarda o último Santuário do Céu. – Fausto voltou a falar. – Por mais que eu saiba que nossa resistência será ínfima, nós precisamos nos arriscar. Brodderick Carnell jamais poupará o santuário, e toda a esperança de Hynneldor depende disso. E é por isso que eu repito: esse santuário só será profanado após a minha morte. Vocês estão comigo? Flora ouviu inúmeras espadas serem desembainhadas e várias vozes, em uníssono, bradarem um grito de aprovação. No mesmo instante, duas portas duplas, uma em cada extremidade do salão, foram escancaradas ao mesmo tempo. Por uma delas, entrou um batalhão de soldados de Hynneldor. Pela outra, irrompeu um grande número de soldados de Vulcannus. Homens armados preencheram o salão, e logo começaram a se digladiar. Mas um homem, em especial, chamou mais a atenção de Flora. Brodderick Carnell era alto, forte, usava uma armadura negra imponente e bradava ordens e palavras de incentivo a seus comandados. Mas nada disso realmente importava. O que atraía o olhar de Flora era a cor de sua pele, escarlate, como Flora nunca vira antes. Por um momento, ela lembrou de sua vida na Ilha de Ashteria. Os sollaris com quem convivera possuíam orelhas pontudas e pele esverdeada. Que saudade! Se Flora queria voltar a ver sua família algum dia, sabia que o primeiro passo seria sobreviver àquela guerra. Mas o homem de pele vermelha era forte, com certeza não era humano e parecia não ter medo da morte. Um enorme barulho às suas costas arrancou Flora de seus devaneios. Ela olhou para trás a tempo de ver parte do teto ceder, quando o Furioso derrubou uma das vigas de sustentação ao tentar passar por um corredor mais estreito do que ele. Como um animal, passou a correr com as mãos no chão, na direção de Flora, deixando para trás um rastro de destruição. Sem pensar, Flora invadiu o Salão dos Quadros, permeando os inúmeros guerreiros que se combatiam mutuamente. Ninguém deu atenção à menina que cruzava o salão em disparada, esquivando-se da batalha e buscando, desesperadamente, um lugar para se abrigar. Mas, quando o Furioso surgiu, todos pareceram prender a respiração ao vê- lo. Ele parou abruptamente na entrada do salão, escancarou a bocarra e soltou um longo e grave rugido: – Matar Valaskes! – E se arremessou em direção a Flora. – PARE! – Gritou Brodderick Carnell, e o Furioso obedeceu prontamente, parando a poucos centímetros dela. Brodderick analisou a situação calmamente, estranhando o fato de o Furioso não estar visando o príncipe Fausto. Ele observou todos os presentes e deu um sorriso de escárnio. Flora e Fausto trocaram um olhar significativo, e um alarme soou na cabeça do príncipe quando seu inimigo declarou, triunfante: – Dois Valaskes de uma só vez? Não poderia ser melhor... – PROTEJAM A PRINCESA! – Fausto gritou, desesperado. Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Os guardas vieram em socorro, liderados por um valente soldado com espada e escudo. O Furioso atacou com ambas as mãos, atingindo o escudo e partindo-o ao meio, enquanto Flora correu, escondendo-se atrás do grupo de soldados que se deslocavam para protegê-la. Aproveitando a distração, Brodderick Carnell fechou os punhos em torno da bainha de uma espada que não existia, e de suas mãos irrompeu o fogo mágico que se transformou em uma espada sólida e afiada. Então atravessou o salão em um segundo e investiu contra Fausto. Quando a espada de fogo de Brodderick se chocou contra a espada de metal do príncipe de Hynneldor, um grande estouro se fez, espalhando fagulhas por todo o salão. Os olhos de Fausto lacrimejaram de dor e muitos dos quadros pendurados na parede lateral arderam em chamas. Fausto foi forçado a recuar sob os ataques constantes e poderosos de seu adversário, e, à distância, avistou os guardas que tentavam proteger sua irmã, mas que caíam às dezenas. Flora voltou a correr, percebendo a inferioridade das forças de Hynneldor. Em poucos minutos, sua defesa fora resumida a um amontoado de figuras agonizantes, e o Furioso continuava avançando, suado, ensanguentado, enquanto derrubava quem quer que estivesse em seu caminho. – Matar Valaskes. Quando não sabia mais para onde fugir, Flora abriu uma das portas e saiu para a sacada. Apoiada no parapeito, sentiu o vento frio da noite e viu que a queda até o chão daria uma longa distância. O Furioso se aproximou lentamente, até que a encobriu com sua enorme sombra, e levantou uma das mãos, para dar-lhe o golpe derradeiro. Ofegante, Flora fechou os olhos com força e esperou pelo seu destino, mas nada lhe aconteceu. Quando voltou a abri-los, Dimitri estava dependurado às costas do monstro, com todos os dentes à mostra, enquanto o estrangulava com a corrente que uma vez fora utilizada para unir suas duas espadas gêmeas. O Furioso se debateu e correu, na tentativa de se livrar do sufocamento, mas o príncipe de Datillion era ágil e determinado. Então, avançou de costas para a parede, para colidir com ela. Dimitri soltou um urro, e por pouco não afrouxou a corrente. O rosto do Furioso estava quase tão vermelho quanto o de Brodderick Carnell, e suas forças começaram a se esvair. Dimitri fechou a corrente, fincando a adaga nos elos das extremidades, e, antes que o monstro desfalecesse, empurrou-o sacada abaixo. Ele caiu por muitos metros, até atingir o portão de estacas de bronze do pátio do castelo, e seu coração foi trespassado por uma das estacas. Já muito debilitado, Dimitri sangrava e tinha ossos quebrados. Apoiava-se em Flora quando, juntos, retornaram ao Salão dos Quadros, apenas para encontrar Fausto já derrotado. Dois soldados inimigos seguravam o príncipe de Hynneldor pelos braços, e o jogaram no chão com violência. Ao tentar se levantar, Brodderick Carnell lhe meteu um chute nas costas, que o fez cair novamente e cuspir sangue. Fausto, já sem forças para lutar, apoiou-se no chão e, lentamente, ergueu-se. Apenas para tomar outro chute. Ao seu redor, dezenas de guerreiros haviam sucumbido, e outros tantos, caídos, apenas aguardavam o encontro com a morte. Apesar de tudo, Fausto estava decidido a morrer em pé, desafiando o inimigo até o fim. Brodderick gargalhava, sentindo prazer com a situação. – Ora, ora... princesa, ainda está aqui? – Caçoou Brodderick. – Devo informar que de nada serviu toda a sua luta. Você só sobreviveu para assistir à morte de seu irmão. Você, leve-o para fora! – Ordenou a um de seus comandados. Em instantes, todas as portas foram abertas, e Fausto foi arrastado para a grande sacada. Flora sentia-se impotente diante da situação: seu irmão, forte e audaz, era agora arrastado como se fosse um boneco nas mãos de seus algozes. O que haveria ela de fazer? Com Dimitri debilitado e Nathair tendo-a traído, estava completamente sozinha. Não sabia lutar e não conhecia seus inimigos. Assistir à humilhação do príncipe era uma tortura, e ela desejava, de todo coração, poder afugentar toda aquela tropa e fazer com que a guerra desaparecesse. Lá embaixo, alguns poucos soldados do reino ainda lutavam, enquanto os moradores tentavam fugir da cidade, para não serem levados a Vulcannus como escravos. Eram todos iluminados pelo brilho quente de grande parte das casas, que eram consumidas pelo fogo. – Vejam todos! Este será o fim da linhagem real de Hynneldor! – Brodderick projetou sua voz, no intuito de alcançar todos aqueles que ainda estavam em Amitié. Desejava que todos testemunhassem a execução. – Primeiro matarei o príncipe regente, que foi responsável pela decadência deste reino. Em seguida, será a vez da princesa Flora, a princesa perdida, que retornou apenas para presenciar o fim de Hynneldor. Os soldados de Vulcannus que estavam na sacada forçaram Fausto a se ajoelhar e a curvar seu pescoço. Brodderick Carnel se deleitava com as circunstâncias, e arrancava risadas de escárnio de seus comandados, a cada novo chute que desferia no príncipe derrotado. Não se preocupou em oferecer-lhe uma morte honrada, pelo contrário. Para Brodderick, a derrota era desprezível, digna de degradação. A cidade inteira parou para assistir, e o som de batalha deu lugar a uma confusa gritaria. As palavras de Brodderick ecoaram por toda Amitié, sendo modificadas à medida que se distanciavam. E o que era “ele vai matar o príncipe e a princesa Flora, que retornou” se tornou apenas “a princesa Flora retornou”. Após apreciar a inglória do príncipe durante um bom tempo, Brodderick empunhou mais uma vez sua espada mágica. Era chegado o momento de dar o golpe final. Inconscientemente, Flora deu um passo para frente. Dimitri tentou impedi-la, mas ela se desvencilhou dele e pôs-se a caminhar em direção a seu inimigo. – Pare! – Disse ela. Todos imediatamente se viraram para ela, inclusive Fausto. O príncipe não demonstrava medo da morte, mas trazia estampado em seu olhar a decepção em saber que Flora continuava ali, e que seria a próxima a experimentar a lâmina flamejante de Brodderick. Ela, por sua vez, recusava-se a acreditar que todo o esforço que empregara em sua jornada fora em vão. Deixara para trás todas as pessoas que amava e enfrentara diversos perigos, não estava disposta a permitir que tudo terminasse daquela maneira, justo quando finalmente estava frente a frente com seu único irmão de sangue. Em sua cabeça, ouvia repetidas vezes a voz de seu irmão de criação, Latham, que lhe dizia “Siga seu coração, e ele lhe proverá a força necessária.” Brodderick contemplou os irmãos Valaskes e se resumiu a dar uma sonora gargalhada. – Princesa, eu bem poderia poupá-los, para que me concedessem um pouco mais dos prazeres da batalha, mas já estou farto de prolongar a guerra contra um inimigo tão insignificante. É chegado o momento de encerrar este assunto. – Ele caminhou lentamente até Fausto, exibindo um sorriso maligno no rosto. Com um rápido movimento, Brodderick levantou a espada de fogo para o alto, em direção ao céu estrelado, e, com toda a sua força, abaixou-a rapidamente, visando o pescoço do príncipe. Tarefa Encerrada.Flora tentou se debater e escapar, mas já estava com as mãos amarradas, e sua força não se comparava à dos guardas. Assim, enquanto gritava, foi arrastada pelos corredores do castelo e escada abaixo, até as masmorras subterrâneas. Lá, o ambiente era escuro e o ar, fétido e pesado. Flora teve uma terrível sensação de claustrofobia, que se intensificava à medida que adentravam o calabouço mais profundamente. Estacaram de repente, e um guarda destrancou e abriu a grossa porta de madeira de uma das celas. Lá de dentro, alguém tentou escapar, mas foi logo repelido por um dos guardas, que lhe acertou um chute no peito. Em seguida, atiraram Flora para dentro e fecharam a porta às suas costas. Ela ainda se levantou e gritou pela grade da porta, mas ninguém respondeu. Foram todos embora, deixando-a ali, presa no escuro. – Flora! Pensei que fossem aprisioná-la longe de mim! – Flora teve um sobressalto ao perceber que dividia a cela com Dimitri Fahd. – Oh, Dimitri! – Ela se adiantou para perto dele. Dimitri estava sentado no chão imundo, e Flora se ajoelhou a seu lado e pousou a cabeça no peito dele. Teriam se abraçado, não estivessem ambos com as mãos atadas nas costas. – Eu não tenho magia, Dimitri! Talvez eu não seja a princesa, afinal... – Não diga tolices. Olhe para mim. Você é a herdeira de Hynneldor, eu poderia reconhecê-la de olhos vendados! Flora olhou para Dimitri, e tudo o que viu na escuridão foi a sugestão do contorno de seu rosto. Mas ela sabia que ele estava olhando diretamente para seus olhos, e que a reconhecia como princesa até nas condições precárias em que se encontravam. – Eu sou um príncipe de Datillion, o reino regido pela estrela de Thermirn. Mas eu não posso usar minha magia. Não. Thermirn é o Deus da Vida e da Morte. Ele define o equilíbrio entre todas as coisas, e há muito tempo minha balança pende para um único lado... Flora, você é igual a mim. A sua magia só vai brotar quando você estiver em sintonia com Zyria. – Mas a cidade vai cair essa noite! – Eu sei. Não se preocupe, eu conheço as passagens secretas desse castelo, vou tirar você daqui. Vamos fugir disso tudo, vamos a Datillion! Lá, posso protegê-la. Ela se afastou dele, incrédula. – Fugir? Você não entende? A cidade será destruída! Precisamos fazer alguma coisa! – Você ainda tem a adaga que te dei? Flora ficou boquiaberta ao perceber que ainda a trazia presa à perna, sob o vestido que Malve lhe emprestara. Enquanto ela se ocupava de lutar contra o vestido para alcançar a adaga, uma estranha agitação vinda do corredor da masmorra chamou a atenção de Dimitri. Ele se levantou e encostou o rosto nas grades de uma pequena abertura da porta, na tentativa de descobrir o que se passava lá fora. Os ruídos logo se transformaram em gritos, e Dimitri sabia que, seja lá o que estivesse acontecendo, não era bom. Flora finalmente conseguiu sacar a adaga e começou a cortar a grossa corda que o prendia, e os dois puderam ouvir o som de muitos passos apressados, que se aproximavam. – Corte mais rápido! – Disse ele. – Estou tentando... – Flora respondeu. Por mais que colocasse toda a sua força na tarefa, as fibras da corda eram rompidas lentamente. Então vieram os sons das espadas. Metal se chocando contra metal e também contra as rochas das paredes, numa batalha em espaço apertado. Os muitos passos se aproximavam deixando para trás um único som abafado: o grito aterrador da morte. Os autores de tamanho alvoroço estavam quase no campo de visão de Dimitri, quando Flora finalmente terminou de cortar a corda. Ele tomou a adaga da mão dela e, com um único movimento, libertou-a também de suas amarras. – Abaixe-se – disse ele, empurrando-a para o canto mais afastado da porta. Flora tampou a respiração quando o barulho chegou aonde eles estavam, acompanhado de um grande clarão vermelho, que iluminou a cela inteira. Homens fortemente armados passaram pelo corredor, trazendo consigo o cheiro de sangue e incontáveis esferas flutuantes de fogo. Eles corriam bravamente, em direção aos salões do castelo, enfrentando e vencendo todos os carcereiros da masmorra e todos os guardas reais que encontrassem pelo caminho. – Eu sempre disse a Fausto que a rota de fuga pela masmorra um dia poderia se tornar um front de batalha. Ele devia ter me ouvido... – Dimitri balançou a cabeça, decepcionado. – Ao menos, sabemos que ele não retirou sua esposa e filhos por aqui. – O que vamos fazer, Dimitri? – Vamos ter que encontrar outra saída. – Mas e as pessoas do castelo? Precisamos fazer alguma coisa! Centenas de soldados inimigos já haviam subido as escadas e o corredor estava vazio novamente. Agora o barulho vinha dos andares de cima do castelo, e a ele se somavam os gritos de mulheres e choros de crianças. – Flora, seu irmão condenou essa cidade ao confiar nas pessoas erradas. Não há nada que possamos fazer. Temos que viver hoje para lutar amanhã. O coração de Flora se espremeu e ela sentiu lágrimas de frustração escorrerem pelo rosto. Dimitri não queria ajudar, e o que ela poderia fazer sozinha, contra um exército inteiro? Ela permaneceu espremida a um canto da cela enquanto Dimitri passou o braço pelas grades e enfiou a adaga pela fechadura, na tentativa de arrombá-la. Mas, antes de ter êxito, ele recuou para dentro, empunhando a adaga em posição de combate. Pelo som, inicialmente Flora imaginou que seria um grande animal selvagem. Um lobo, talvez. Vinha farejando pelo corredor, fazendo estardalhaço enquanto corria. Estava subindo, no mesmo sentido em que os demais soldados inimigos. Mas este era diferente, não trazia consigo esferas de fogo, e nem mesmo tochas comuns. Vinha no escuro, guiando- se apenas pelo olfato. Quando se aproximou da porta da cela de Flora e Dimitri, a criatura estacou. Pela sombra que se formou na luz precária e difusa, Flora pôde ver que, na realidade, se tratava de um homem. Mas não era um homem comum. Sua postura era arqueada e a respiração, rápida e ruidosa. Diferente dos outros, que gritavam enquanto prosseguiam, de sua boca irrompia apenas um rosnado grave e animalesco. Não pretendia enfrentar o exército defensor, apenas ansiava por aniquilar uma presa. Era um homem com instinto selvagem, e sua voz pareceu um rugido quando farejou mais uma vez e falou: – Matar Valaskes! Flora sentiu um calafrio ao ouvir essas palavras e arriscou uma espiadela. Ele era muito mais alto do que Dimitri, e exibia músculos salientes. Suas feições eram indecifráveis, sob a barba mal-feita e as cicatrizes de batalha, marcadas em seu rosto. Suas roupas estavam em farrapos, mas ele não parecia se importar com isso. BAM! Com um golpe, fez a porta estremecer. – Flora, isso é um Furioso. A consciência dele é restrita a cumprir a ordem que recebeu. Aparentemente, o alvo deveria ser o seu irmão... – Dimitri soltou um riso de desgosto. – Fique atrás de mim. Eu vou atrasá-lo, e você corre. Como sempre, Dimitri demonstrava sua valentia. Mas o que ele poderia fazer contra o gigante, usando apenas uma pequena adaga? BAM! Antes, a grossa madeira da porta parecia intransponível. Agora, golpeada violentamente pelo guerreiro do exército inimigo, parecia que viria abaixo a qualquer momento. – Você lembra como foi trazida pra cá? Volte pelo mesmo caminho. Nos encontraremos no Salão dos Quadros. Flora estava paralisada. Ela olhava de Dimitri para o Furioso e se perguntava se seria capaz de correr dali. Seu coração estava aos saltos, e todo o seu corpo tremia. BAM! A porta finalmente cedeu, abrindo uma fenda bem no meio. O Furioso enfiou a manzorra pelo buraco, agarrou a madeira da borda e puxou-a para fora, a fim de abrir uma entrada maior. Ele chutou novamente a porta, arrancou mais alguns pedaços de madeira, quebrou, rasgou. E quanto mais a porta era destruída, melhor o Furioso podia ser visto. Escorria sangue de vários cortes em todo o seu corpo, mas ele não parecia sentir dor. Estava sempre em uma postura encurvada, como um animal pronto para dar o bote. Mas Dimitri atacou primeiro. Assim que o Furioso se abaixou e meteu a cabeça pela porta, o príncipe de Datillion se adiantou rapidamente e, com um golpe certeiro, enfiou a adaga no olho dele. Apanhado de surpresa, o Furioso deu um passo para trás e levou a mão ao rosto. – Agora! CORRA! – Dimitri gritou. Subitamente, Flora deixou sua posição, esgueirou- se pelo espaço aberto entre a porta destruída e o Furioso, e fugiu pelo extenso corredor. Correu o mais rápido que pôde, e em seu caminho encontrou corpos, ainda em chamas, dos carcereiros do castelo. Olhou para trás, vacilante, a tempo de ver o Furioso arrancar a adaga do olho e a jogar para longe. Imediatamente, Dimitri acometeu sobre ele, golpeando-o com as mãos nuas, mas o Furioso mal sentiu seus ataques, agarrou-o pela roupa e atirou-o para longe. Dimitri deu com as costas na pedra dura da parede, e escorregou até o chão. Rolou para o lado a tempo de escapar da arremetida do Furioso e reaver a adaga. Interpondo-se entre Flora e o Furioso, Dimitri falou mais uma vez, com autoridade: – Vá embora logo, Flora! Você só vai me atrapalhar. Com pesar, Flora deu as costas e correu. Ainda lembrava o caminho até o Salão dos Quadros, e rumou naquela direção. Dimitri foi deixado sozinho na masmorra destruída e repleta de corpos carbonizados, armado apenas com uma pequena adaga e com uma grande coragem. Ele encarou o Furioso com serenidade e desafiou: – Vamos ver quanto tempo você leva pra me matar. Tarefa Encerrada. |
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Calendário12/01
21:00h - Autora 21:00h - Prefácio 13/01 20:00h - 1º capítulo 20:00h - 1ª tarefa 14/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 1ª tarefa. 20:00h - 2º capítulo 20:00h - 2ª tarefa 15/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 2ª tarefa. 16/01 20:00h - 3º capítulo 20:00h - 3ª tarefa 17/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 3ª tarefa. 20:00h - 4º capítulo 20:00h - 4ª tarefa 18/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 4ª tarefa. 20:00h - 5º capítulo 20:00h - 5ª tarefa 19/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 5ª tarefa. 20:00h - 6º capítulo 20:00h - 6ª tarefa 20/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 6ª tarefa. 20:00h - 7º capítulo 20:00h - 7ª tarefa 21/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 7ª tarefa. 20:00h - 8º capítulo 20:00h - 8ª tarefa 22/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 8ª tarefa. 20:00h - 9º capítulo 20:00h - 9ª tarefa 23/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 9ª tarefa. 24/01 20:00h - 10º capítulo 20:00h - 10ª tarefa 25/01 19:59h - Final do tempo para realizar a 10ª tarefa. 26/01 ~ 27/01 20:00h - Epílogo 21:00h - TAREFA EXTRA 28/01 ~ 29/01 20:59h - Final do tempo para realizar a TAREFA EXTRA. 22:00h - Resultado Ranking! (FINAL)
1º lugar:
- Érika Rufo (135 pontos) 2º lugar: - Jardani Dias (131 pontos) 3º lugar: - Jéssica Melo (124 pontos) - Douglas Fernandes (124 pontos) 4º lugar: - Edson Lemes Júnior (119 pontos) 5º lugar: - Bruno Ferreira (107 pontos) 6º lugar: - Pedro Vilanova (53 pontos) 7º lugar: - Sara Fonseca (50 pontos) 8º lugar: - Amanda Porto (47 pontos) 9º lugar: - Letícia Lima (24 pontos) 10º lugar: - Bianca Marques (23 pontos) 11º lugar: - Júlia Eva (12 pontos) 12º lugar: - Bruno Brito (10 pontos) - Ana Carolina França (10 pontos) - Ronny Souza (10 pontos) |