– NÃO! – Flora gritou, enquanto a espada de Brodderick Carnell descia, em alta velocidade, em direção ao pescoço de Fausto Valaskes.
Mas seu grito foi abafado por uma voz juvenil:
– PELA PRINCESA!
Antes mesmo que a espada atingisse seu objetivo, Brodderick Carnell interrompeu o golpe e se virou violentamente, lançando uma cotovelada para trás. Só então Flora percebeu o recém-chegado. Era um garoto, não devia ter mais que quinze anos. Chegou sorrateiramente enquanto toda a atenção estava voltada para o príncipe Fausto, e, no momento exato, perfurou as costas de Brodderick com seu pequeno punhal. Mas aquilo não seria suficiente para aniquilar o general inimigo, e agora o rapaz jazia inconsciente, depois de tomar uma cotovelada de Brodderick, que o arremessou a metros de distância, batendo a cabeça na parede de pedra do castelo.
– O que significa isso?! – Brodderick ficou boquiaberto perante a valentia do pequeno e insignificante aldeão.
De seus comandados, o mais velho se aproximou a fim de dar cabo à vida do garoto, mas, no momento em que o faria, uma foice voou em sua direção e ele precisou se esquivar. Em pé sobre o parapeito da sacada, um fazendeiro brandia seu forcado. Não possuía treinamento militar, mas braços fortes para escalar a hera que recobria a parede abaixo da sacada, e coragem para enfrentar a morte, se preciso, na defesa daquilo em que acreditava.
– PELA PRINCESA QUE DÁ A VITÓRIA A HYNNELDOR! – Gritou ele, e jogou-se sobre o soldado mais velho.
O homem logo foi morto, mas outros surgiram do mesmo lugar. Eram lavradores, comerciantes, oleiros, que, ao descobrir o retorno da princesa, perderam o medo, desistiram da fuga e retornaram para enfrentar os inimigos. Homens recolheram as espadas abandonadas em campo de batalha, mulheres e crianças se armaram de paus e pedras. Uniram-se, todos, e serviram de reforços aos soldados remanescentes.
Isso deu a Flora a oportunidade de se aproximar de Fausto e fazê-lo levantar-se. Ao seu lado, um grupo de pescadores afastava dela os inimigos que tentavam se aproximar. Mas não era uma tarefa fácil, e muitos morreram carbonizados pelo fogo mágico criado pelos soldados de Vulcannus.
Irritado, Brodderick arrancou de suas costas o punhal ensanguentado e, em suas mãos, criou uma flama tão poderosa que derreteu a arma em instantes. Enquanto a batalha entre soldados e homens do povo se desenrolava ao seu redor, caminhou sem pressa até o menino que tanto o incomodara. Ele agora estava retomando a consciência, mas, se dependesse de Brodderick, não seria por muito tempo.
Enquanto ele pensava em uma morte dolorosa para o garoto, Dimitri surgiu em sua frente. Metade de seu rosto estava banhado em sangue, andava com dificuldade e fraquejava ao segurar uma única espada na mão esquerda, em posição de defesa.
– Terell, você vive me dando trabalho... – Disse ele ao garoto, em um tom melancólico. – Fuja daqui e volte para casa, ou Malve vai me matar!
– Quando me contou que você veio pra cá, a minha mãe sabia muito bem que eu te seguiria. – retrucou ele.
Abaixo da sacada, toda a cidade voltou a se agitar. A descoberta do retorno da princesa desaparecida trouxe a Amitié um novo sopro de esperança, e os habitantes abraçaram com todas as forças sua única chance de criar para si um novo futuro. Bastava uma pequena brisa morna, e todos os corações se encheram de coragem e fé.
Soldados caídos se levantaram, e aqueles que já haviam se rendido ao destino encontraram um novo motivo para acreditar na possibilidade de vitória. Os que ainda estavam livres voltaram a lutar com todas as forças, e aqueles que já haviam sido capturados se rebelaram contra as correntes, ampliando barulho que tomou conta da cidade. E o exército de Vulcannus pela primeira vez estremeceu frente a um inimigo que, aparentemente derrotado, voltava a se reerguer.
Brodderick não podia estar mais desgostoso. Ele sentia prazer em lutar uma batalha desafiadora, é verdade, mas naquele dia já contava com uma vitória fácil. Sem cerimônia, Brandiu sobre Dimitri um golpe rápido de sua espada de fogo. O príncipe de Datillion protegeu-se como pôde, usando sua espada de metal, já muito suja e desgastada da batalha. Mas seu braço, enfraquecido, não suportou o esforço, e sua espada vibrou com violência e foi lançada para longe.
– Terell, corra. – Ele disse, ofegante, com os olhos fixos em Brodderick.
A poucos metros de distância, Flora pôde ver a expressão desafiadora do príncipe de Datillion. Mesmo derrotado, ele se opunha a Brodderick como uma sólida muralha, permitindo, assim, que o menino fugisse na confusão da batalha ao redor. Ela sabia que o próximo golpe de Brodderick poria fim à vida de Dimitri.
E sabia, também, que seu coração não permitiria isso.
Então Flora correu em direção a ele. Se alguém perguntasse, ela jamais saberia responder o porque de fazer isso. Tudo o que sabia é que era o certo, que ela não poderia assistir à morte de seu protetor e permanecer de braços cruzados. E no momento em que a espada de Brodderick Carnel cortou o ar mais uma vez, ela estava lá, e se jogou na frente de Dimitri, de braços abertos, pronta a receber o golpe em seu lugar.
O grito de Dimitri ficou entalado na garganta, mas seus olhos se arregalaram em incredulidade. Existem momentos que parecem durar uma eternidade, e foi isso que sentiu. Em uma fração de segundo, pôde ver cada uma das pequenas fagulhas que formavam a espada crepitante, e que se aproximavam perigosamente de Flora. Viu a pele alva da princesa, que se avermelhou com a proximidade do fogo, e sentiu o calor escaldante.
Seu coração se apertou quando pensou em perdê- la, depois de tanto sofrimento, tanto suor e tanto sangue derramado na tentativa de encontrá-la, e ao pensar em como nunca mais poderia tê-la na garupa de seu cavalo, ou sentada a seu lado em uma carruagem. Ela era tão jovem, e possuía tantas dúvidas tolas... Mas ele já havia se habituado a ela, e a impossibilidade de salvá-la mais uma vez fez com que uma lágrima lentamente escapasse de seus olhos.
Porém, de tudo o que viu naquele momento, há algo que jamais esqueceria. Os fios de cabelo de Flora, tão negros que nem a luz avermelhada da espada de Brodderick poderia tirar- lhes a cor, gradativamente começaram a se agitar, impelidos por uma súbita rajada de vento. As mechas foram jogadas de um lado para outro, e de repente Dimitri se viu dentro de um ciclone.
E quando a espada finalmente atingiu a pele de Flora, em vez de feri-la, se dissipou. Brodderick, pronto para suportar um impacto que não veio, perdeu momentaneamente o equilíbrio e cambaleou para o lado. Sua espada de fogo foi totalmente varrida de suas mãos pela violenta ventania que se lançou sobre ele, e no mesmo instante ele soube que aquele não era um vento comum. Flora fechou os olhos e, de braços abertos, deixou-se envolver pelo vento que a descabelava, acariciando sua pele e preenchendo o vazio em seu espírito.
– Você conseguiu, está novamente com Zyria! – Dimitri vacilava entre a incredulidade e o encantamento.
– Sim – respondeu Flora, abrindo os olhos. – Zyria, a deusa de todas as formas de amor. Onde mais poderia encontrá-la, se não dentro de mim mesma?
Flora levantou as mãos e, a seu comando, o vento arredio e sem rumo logo se ordenou. Formou uma poderosa esfera de vento que englobava a si e a Dimitri. Os perigos de fora não mais poderiam ameaçá-los.
Por mais que tentasse, Brodderick não conseguia recriar a espada flamejante. O poder mágico naquele lugar era forte demais e não deixava brecha para forças rivais. No chão, foices, serras, machados e forcados se misturavam aos cadáveres e dificultavam a busca por uma espada. E, antes que pudesse se recuperar do susto e encontrar uma arma adequada, Brodderick sentiu seu peito se partir, quando seu coração foi atravessado por uma foice. Uma reles foice, mas que era empunhada por Fausto Valaskes.
– É o seu fim. – Disse Fausto, quando torceu a foice dentro de Brodderick e a puxou ferozmente, banhando-se com o sangue do inimigo derrotado.
Lentamente, Brodderick caiu no chão. Ao mesmo tempo, Flora dissipou sua barreira protetora, espalhando o vento mágico para todos os lados. Por toda Amitié, o exército de Vulcannus foi subjugado pelos habitantes de Hynneldor, que vibravam e celebravam, bradando o nome da princesa revelada, enquanto os raios do sol nascente anunciavam o início de um novo dia.
Mas seu grito foi abafado por uma voz juvenil:
– PELA PRINCESA!
Antes mesmo que a espada atingisse seu objetivo, Brodderick Carnell interrompeu o golpe e se virou violentamente, lançando uma cotovelada para trás. Só então Flora percebeu o recém-chegado. Era um garoto, não devia ter mais que quinze anos. Chegou sorrateiramente enquanto toda a atenção estava voltada para o príncipe Fausto, e, no momento exato, perfurou as costas de Brodderick com seu pequeno punhal. Mas aquilo não seria suficiente para aniquilar o general inimigo, e agora o rapaz jazia inconsciente, depois de tomar uma cotovelada de Brodderick, que o arremessou a metros de distância, batendo a cabeça na parede de pedra do castelo.
– O que significa isso?! – Brodderick ficou boquiaberto perante a valentia do pequeno e insignificante aldeão.
De seus comandados, o mais velho se aproximou a fim de dar cabo à vida do garoto, mas, no momento em que o faria, uma foice voou em sua direção e ele precisou se esquivar. Em pé sobre o parapeito da sacada, um fazendeiro brandia seu forcado. Não possuía treinamento militar, mas braços fortes para escalar a hera que recobria a parede abaixo da sacada, e coragem para enfrentar a morte, se preciso, na defesa daquilo em que acreditava.
– PELA PRINCESA QUE DÁ A VITÓRIA A HYNNELDOR! – Gritou ele, e jogou-se sobre o soldado mais velho.
O homem logo foi morto, mas outros surgiram do mesmo lugar. Eram lavradores, comerciantes, oleiros, que, ao descobrir o retorno da princesa, perderam o medo, desistiram da fuga e retornaram para enfrentar os inimigos. Homens recolheram as espadas abandonadas em campo de batalha, mulheres e crianças se armaram de paus e pedras. Uniram-se, todos, e serviram de reforços aos soldados remanescentes.
Isso deu a Flora a oportunidade de se aproximar de Fausto e fazê-lo levantar-se. Ao seu lado, um grupo de pescadores afastava dela os inimigos que tentavam se aproximar. Mas não era uma tarefa fácil, e muitos morreram carbonizados pelo fogo mágico criado pelos soldados de Vulcannus.
Irritado, Brodderick arrancou de suas costas o punhal ensanguentado e, em suas mãos, criou uma flama tão poderosa que derreteu a arma em instantes. Enquanto a batalha entre soldados e homens do povo se desenrolava ao seu redor, caminhou sem pressa até o menino que tanto o incomodara. Ele agora estava retomando a consciência, mas, se dependesse de Brodderick, não seria por muito tempo.
Enquanto ele pensava em uma morte dolorosa para o garoto, Dimitri surgiu em sua frente. Metade de seu rosto estava banhado em sangue, andava com dificuldade e fraquejava ao segurar uma única espada na mão esquerda, em posição de defesa.
– Terell, você vive me dando trabalho... – Disse ele ao garoto, em um tom melancólico. – Fuja daqui e volte para casa, ou Malve vai me matar!
– Quando me contou que você veio pra cá, a minha mãe sabia muito bem que eu te seguiria. – retrucou ele.
Abaixo da sacada, toda a cidade voltou a se agitar. A descoberta do retorno da princesa desaparecida trouxe a Amitié um novo sopro de esperança, e os habitantes abraçaram com todas as forças sua única chance de criar para si um novo futuro. Bastava uma pequena brisa morna, e todos os corações se encheram de coragem e fé.
Soldados caídos se levantaram, e aqueles que já haviam se rendido ao destino encontraram um novo motivo para acreditar na possibilidade de vitória. Os que ainda estavam livres voltaram a lutar com todas as forças, e aqueles que já haviam sido capturados se rebelaram contra as correntes, ampliando barulho que tomou conta da cidade. E o exército de Vulcannus pela primeira vez estremeceu frente a um inimigo que, aparentemente derrotado, voltava a se reerguer.
Brodderick não podia estar mais desgostoso. Ele sentia prazer em lutar uma batalha desafiadora, é verdade, mas naquele dia já contava com uma vitória fácil. Sem cerimônia, Brandiu sobre Dimitri um golpe rápido de sua espada de fogo. O príncipe de Datillion protegeu-se como pôde, usando sua espada de metal, já muito suja e desgastada da batalha. Mas seu braço, enfraquecido, não suportou o esforço, e sua espada vibrou com violência e foi lançada para longe.
– Terell, corra. – Ele disse, ofegante, com os olhos fixos em Brodderick.
A poucos metros de distância, Flora pôde ver a expressão desafiadora do príncipe de Datillion. Mesmo derrotado, ele se opunha a Brodderick como uma sólida muralha, permitindo, assim, que o menino fugisse na confusão da batalha ao redor. Ela sabia que o próximo golpe de Brodderick poria fim à vida de Dimitri.
E sabia, também, que seu coração não permitiria isso.
Então Flora correu em direção a ele. Se alguém perguntasse, ela jamais saberia responder o porque de fazer isso. Tudo o que sabia é que era o certo, que ela não poderia assistir à morte de seu protetor e permanecer de braços cruzados. E no momento em que a espada de Brodderick Carnel cortou o ar mais uma vez, ela estava lá, e se jogou na frente de Dimitri, de braços abertos, pronta a receber o golpe em seu lugar.
O grito de Dimitri ficou entalado na garganta, mas seus olhos se arregalaram em incredulidade. Existem momentos que parecem durar uma eternidade, e foi isso que sentiu. Em uma fração de segundo, pôde ver cada uma das pequenas fagulhas que formavam a espada crepitante, e que se aproximavam perigosamente de Flora. Viu a pele alva da princesa, que se avermelhou com a proximidade do fogo, e sentiu o calor escaldante.
Seu coração se apertou quando pensou em perdê- la, depois de tanto sofrimento, tanto suor e tanto sangue derramado na tentativa de encontrá-la, e ao pensar em como nunca mais poderia tê-la na garupa de seu cavalo, ou sentada a seu lado em uma carruagem. Ela era tão jovem, e possuía tantas dúvidas tolas... Mas ele já havia se habituado a ela, e a impossibilidade de salvá-la mais uma vez fez com que uma lágrima lentamente escapasse de seus olhos.
Porém, de tudo o que viu naquele momento, há algo que jamais esqueceria. Os fios de cabelo de Flora, tão negros que nem a luz avermelhada da espada de Brodderick poderia tirar- lhes a cor, gradativamente começaram a se agitar, impelidos por uma súbita rajada de vento. As mechas foram jogadas de um lado para outro, e de repente Dimitri se viu dentro de um ciclone.
E quando a espada finalmente atingiu a pele de Flora, em vez de feri-la, se dissipou. Brodderick, pronto para suportar um impacto que não veio, perdeu momentaneamente o equilíbrio e cambaleou para o lado. Sua espada de fogo foi totalmente varrida de suas mãos pela violenta ventania que se lançou sobre ele, e no mesmo instante ele soube que aquele não era um vento comum. Flora fechou os olhos e, de braços abertos, deixou-se envolver pelo vento que a descabelava, acariciando sua pele e preenchendo o vazio em seu espírito.
– Você conseguiu, está novamente com Zyria! – Dimitri vacilava entre a incredulidade e o encantamento.
– Sim – respondeu Flora, abrindo os olhos. – Zyria, a deusa de todas as formas de amor. Onde mais poderia encontrá-la, se não dentro de mim mesma?
Flora levantou as mãos e, a seu comando, o vento arredio e sem rumo logo se ordenou. Formou uma poderosa esfera de vento que englobava a si e a Dimitri. Os perigos de fora não mais poderiam ameaçá-los.
Por mais que tentasse, Brodderick não conseguia recriar a espada flamejante. O poder mágico naquele lugar era forte demais e não deixava brecha para forças rivais. No chão, foices, serras, machados e forcados se misturavam aos cadáveres e dificultavam a busca por uma espada. E, antes que pudesse se recuperar do susto e encontrar uma arma adequada, Brodderick sentiu seu peito se partir, quando seu coração foi atravessado por uma foice. Uma reles foice, mas que era empunhada por Fausto Valaskes.
– É o seu fim. – Disse Fausto, quando torceu a foice dentro de Brodderick e a puxou ferozmente, banhando-se com o sangue do inimigo derrotado.
Lentamente, Brodderick caiu no chão. Ao mesmo tempo, Flora dissipou sua barreira protetora, espalhando o vento mágico para todos os lados. Por toda Amitié, o exército de Vulcannus foi subjugado pelos habitantes de Hynneldor, que vibravam e celebravam, bradando o nome da princesa revelada, enquanto os raios do sol nascente anunciavam o início de um novo dia.