Flora tentou se debater e escapar, mas já estava com as mãos amarradas, e sua força não se comparava à dos guardas. Assim, enquanto gritava, foi arrastada pelos corredores do castelo e escada abaixo, até as masmorras subterrâneas. Lá, o ambiente era escuro e o ar, fétido e pesado. Flora teve uma terrível sensação de claustrofobia, que se intensificava à medida que adentravam o calabouço mais profundamente.
Estacaram de repente, e um guarda destrancou e abriu a grossa porta de madeira de uma das celas. Lá de dentro, alguém tentou escapar, mas foi logo repelido por um dos guardas, que lhe acertou um chute no peito. Em seguida, atiraram Flora para dentro e fecharam a porta às suas costas. Ela ainda se levantou e gritou pela grade da porta, mas ninguém respondeu. Foram todos embora, deixando-a ali, presa no escuro.
– Flora! Pensei que fossem aprisioná-la longe de mim! – Flora teve um sobressalto ao perceber que dividia a cela com Dimitri Fahd.
– Oh, Dimitri! – Ela se adiantou para perto dele. Dimitri estava sentado no chão imundo, e Flora se ajoelhou a seu lado e pousou a cabeça no peito dele. Teriam se abraçado, não estivessem ambos com as mãos atadas nas costas. – Eu não tenho magia, Dimitri! Talvez eu não seja a princesa, afinal...
– Não diga tolices. Olhe para mim. Você é a herdeira de Hynneldor, eu poderia reconhecê-la de olhos vendados!
Flora olhou para Dimitri, e tudo o que viu na escuridão foi a sugestão do contorno de seu rosto. Mas ela sabia que ele estava olhando diretamente para seus olhos, e que a reconhecia como princesa até nas condições precárias em que se encontravam.
– Eu sou um príncipe de Datillion, o reino regido pela estrela de Thermirn. Mas eu não posso usar minha magia. Não. Thermirn é o Deus da Vida e da Morte. Ele define o equilíbrio entre todas as coisas, e há muito tempo minha balança pende para um único lado... Flora, você é igual a mim. A sua magia só vai brotar quando você estiver em sintonia com Zyria.
– Mas a cidade vai cair essa noite!
– Eu sei. Não se preocupe, eu conheço as passagens secretas desse castelo, vou tirar você daqui. Vamos fugir disso tudo, vamos a Datillion! Lá, posso protegê-la.
Ela se afastou dele, incrédula.
– Fugir? Você não entende? A cidade será destruída! Precisamos fazer alguma coisa!
– Você ainda tem a adaga que te dei?
Flora ficou boquiaberta ao perceber que ainda a trazia presa à perna, sob o vestido que Malve lhe emprestara. Enquanto ela se ocupava de lutar contra o vestido para alcançar a adaga, uma estranha agitação vinda do corredor da masmorra chamou a atenção de Dimitri. Ele se levantou e encostou o rosto nas grades de uma pequena abertura da porta, na tentativa de descobrir o que se passava lá fora.
Os ruídos logo se transformaram em gritos, e Dimitri sabia que, seja lá o que estivesse acontecendo, não era bom. Flora finalmente conseguiu sacar a adaga e começou a cortar a grossa corda que o prendia, e os dois puderam ouvir o som de muitos passos apressados, que se aproximavam.
– Corte mais rápido! – Disse ele.
– Estou tentando... – Flora respondeu. Por mais que colocasse toda a sua força na tarefa, as fibras da corda eram rompidas lentamente.
Então vieram os sons das espadas. Metal se chocando contra metal e também contra as rochas das paredes, numa batalha em espaço apertado. Os muitos passos se aproximavam deixando para trás um único som abafado: o grito aterrador da morte.
Os autores de tamanho alvoroço estavam quase no campo de visão de Dimitri, quando Flora finalmente terminou de cortar a corda. Ele tomou a adaga da mão dela e, com um único movimento, libertou-a também de suas amarras.
– Abaixe-se – disse ele, empurrando-a para o canto mais afastado da porta.
Flora tampou a respiração quando o barulho chegou aonde eles estavam, acompanhado de um grande clarão vermelho, que iluminou a cela inteira. Homens fortemente armados passaram pelo corredor, trazendo consigo o cheiro de sangue e incontáveis esferas flutuantes de fogo. Eles corriam bravamente, em direção aos salões do castelo, enfrentando e vencendo todos os carcereiros da masmorra e todos os guardas reais que encontrassem pelo caminho.
– Eu sempre disse a Fausto que a rota de fuga pela masmorra um dia poderia se tornar um front de batalha. Ele devia ter me ouvido... – Dimitri balançou a cabeça, decepcionado. – Ao menos, sabemos que ele não retirou sua esposa e filhos por aqui.
– O que vamos fazer, Dimitri?
– Vamos ter que encontrar outra saída.
– Mas e as pessoas do castelo? Precisamos fazer alguma coisa!
Centenas de soldados inimigos já haviam subido as escadas e o corredor estava vazio novamente. Agora o barulho vinha dos andares de cima do castelo, e a ele se somavam os gritos de mulheres e choros de crianças.
– Flora, seu irmão condenou essa cidade ao confiar nas pessoas erradas. Não há nada que possamos fazer. Temos que viver hoje para lutar amanhã.
O coração de Flora se espremeu e ela sentiu lágrimas de frustração escorrerem pelo rosto. Dimitri não queria ajudar, e o que ela poderia fazer sozinha, contra um exército inteiro? Ela permaneceu espremida a um canto da cela enquanto Dimitri passou o braço pelas grades e enfiou a adaga pela fechadura, na tentativa de arrombá-la. Mas, antes de ter êxito, ele recuou para dentro, empunhando a adaga em posição de combate.
Pelo som, inicialmente Flora imaginou que seria um grande animal selvagem. Um lobo, talvez. Vinha farejando pelo corredor, fazendo estardalhaço enquanto corria. Estava subindo, no mesmo sentido em que os demais soldados inimigos. Mas este era diferente, não trazia consigo esferas de fogo, e nem mesmo tochas comuns. Vinha no escuro, guiando- se apenas pelo olfato.
Quando se aproximou da porta da cela de Flora e Dimitri, a criatura estacou. Pela sombra que se formou na luz precária e difusa, Flora pôde ver que, na realidade, se tratava de um homem. Mas não era um homem comum. Sua postura era arqueada e a respiração, rápida e ruidosa. Diferente dos outros, que gritavam enquanto prosseguiam, de sua boca irrompia apenas um rosnado grave e animalesco. Não pretendia enfrentar o exército defensor, apenas ansiava por aniquilar uma presa. Era um homem com instinto selvagem, e sua voz pareceu um rugido quando farejou mais uma vez e falou:
– Matar Valaskes!
Flora sentiu um calafrio ao ouvir essas palavras e arriscou uma espiadela. Ele era muito mais alto do que Dimitri, e exibia músculos salientes. Suas feições eram indecifráveis, sob a barba mal-feita e as cicatrizes de batalha, marcadas em seu rosto. Suas roupas estavam em farrapos, mas ele não parecia se importar com isso.
BAM! Com um golpe, fez a porta estremecer.
– Flora, isso é um Furioso. A consciência dele é restrita a cumprir a ordem que recebeu. Aparentemente, o alvo deveria ser o seu irmão... – Dimitri soltou um riso de desgosto. – Fique atrás de mim. Eu vou atrasá-lo, e você corre.
Como sempre, Dimitri demonstrava sua valentia. Mas o que ele poderia fazer contra o gigante, usando apenas uma pequena adaga?
BAM! Antes, a grossa madeira da porta parecia intransponível. Agora, golpeada violentamente pelo guerreiro do exército inimigo, parecia que viria abaixo a qualquer momento. – Você lembra como foi trazida pra cá? Volte pelo mesmo caminho. Nos encontraremos no Salão dos Quadros. Flora estava paralisada. Ela olhava de Dimitri para o Furioso e se perguntava se seria capaz de correr dali. Seu coração estava aos saltos, e todo o seu corpo tremia. BAM! A porta finalmente cedeu, abrindo uma fenda bem no meio. O Furioso enfiou a manzorra pelo buraco, agarrou a madeira da borda e puxou-a para fora, a fim de abrir uma entrada maior. Ele chutou novamente a porta, arrancou mais alguns pedaços de madeira, quebrou, rasgou. E quanto mais a porta era destruída, melhor o Furioso podia ser visto. Escorria sangue de vários cortes em todo o seu corpo, mas ele não parecia sentir dor. Estava sempre em uma postura encurvada, como um animal pronto para dar o bote.
Mas Dimitri atacou primeiro. Assim que o Furioso se abaixou e meteu a cabeça pela porta, o príncipe de Datillion se adiantou rapidamente e, com um golpe certeiro, enfiou a adaga no olho dele. Apanhado de surpresa, o Furioso deu um passo para trás e levou a mão ao rosto.
– Agora! CORRA! – Dimitri gritou.
Subitamente, Flora deixou sua posição, esgueirou- se pelo espaço aberto entre a porta destruída e o Furioso, e fugiu pelo extenso corredor. Correu o mais rápido que pôde, e em seu caminho encontrou corpos, ainda em chamas, dos carcereiros do castelo.
Olhou para trás, vacilante, a tempo de ver o Furioso arrancar a adaga do olho e a jogar para longe. Imediatamente, Dimitri acometeu sobre ele, golpeando-o com as mãos nuas, mas o Furioso mal sentiu seus ataques, agarrou-o pela roupa e atirou-o para longe. Dimitri deu com as costas na pedra dura da parede, e escorregou até o chão. Rolou para o lado a tempo de escapar da arremetida do Furioso e reaver a adaga.
Interpondo-se entre Flora e o Furioso, Dimitri falou mais uma vez, com autoridade:
– Vá embora logo, Flora! Você só vai me atrapalhar.
Com pesar, Flora deu as costas e correu. Ainda lembrava o caminho até o Salão dos Quadros, e rumou naquela direção. Dimitri foi deixado sozinho na masmorra destruída e repleta de corpos carbonizados, armado apenas com uma pequena adaga e com uma grande coragem. Ele encarou o Furioso com serenidade e desafiou:
– Vamos ver quanto tempo você leva pra me matar.
Estacaram de repente, e um guarda destrancou e abriu a grossa porta de madeira de uma das celas. Lá de dentro, alguém tentou escapar, mas foi logo repelido por um dos guardas, que lhe acertou um chute no peito. Em seguida, atiraram Flora para dentro e fecharam a porta às suas costas. Ela ainda se levantou e gritou pela grade da porta, mas ninguém respondeu. Foram todos embora, deixando-a ali, presa no escuro.
– Flora! Pensei que fossem aprisioná-la longe de mim! – Flora teve um sobressalto ao perceber que dividia a cela com Dimitri Fahd.
– Oh, Dimitri! – Ela se adiantou para perto dele. Dimitri estava sentado no chão imundo, e Flora se ajoelhou a seu lado e pousou a cabeça no peito dele. Teriam se abraçado, não estivessem ambos com as mãos atadas nas costas. – Eu não tenho magia, Dimitri! Talvez eu não seja a princesa, afinal...
– Não diga tolices. Olhe para mim. Você é a herdeira de Hynneldor, eu poderia reconhecê-la de olhos vendados!
Flora olhou para Dimitri, e tudo o que viu na escuridão foi a sugestão do contorno de seu rosto. Mas ela sabia que ele estava olhando diretamente para seus olhos, e que a reconhecia como princesa até nas condições precárias em que se encontravam.
– Eu sou um príncipe de Datillion, o reino regido pela estrela de Thermirn. Mas eu não posso usar minha magia. Não. Thermirn é o Deus da Vida e da Morte. Ele define o equilíbrio entre todas as coisas, e há muito tempo minha balança pende para um único lado... Flora, você é igual a mim. A sua magia só vai brotar quando você estiver em sintonia com Zyria.
– Mas a cidade vai cair essa noite!
– Eu sei. Não se preocupe, eu conheço as passagens secretas desse castelo, vou tirar você daqui. Vamos fugir disso tudo, vamos a Datillion! Lá, posso protegê-la.
Ela se afastou dele, incrédula.
– Fugir? Você não entende? A cidade será destruída! Precisamos fazer alguma coisa!
– Você ainda tem a adaga que te dei?
Flora ficou boquiaberta ao perceber que ainda a trazia presa à perna, sob o vestido que Malve lhe emprestara. Enquanto ela se ocupava de lutar contra o vestido para alcançar a adaga, uma estranha agitação vinda do corredor da masmorra chamou a atenção de Dimitri. Ele se levantou e encostou o rosto nas grades de uma pequena abertura da porta, na tentativa de descobrir o que se passava lá fora.
Os ruídos logo se transformaram em gritos, e Dimitri sabia que, seja lá o que estivesse acontecendo, não era bom. Flora finalmente conseguiu sacar a adaga e começou a cortar a grossa corda que o prendia, e os dois puderam ouvir o som de muitos passos apressados, que se aproximavam.
– Corte mais rápido! – Disse ele.
– Estou tentando... – Flora respondeu. Por mais que colocasse toda a sua força na tarefa, as fibras da corda eram rompidas lentamente.
Então vieram os sons das espadas. Metal se chocando contra metal e também contra as rochas das paredes, numa batalha em espaço apertado. Os muitos passos se aproximavam deixando para trás um único som abafado: o grito aterrador da morte.
Os autores de tamanho alvoroço estavam quase no campo de visão de Dimitri, quando Flora finalmente terminou de cortar a corda. Ele tomou a adaga da mão dela e, com um único movimento, libertou-a também de suas amarras.
– Abaixe-se – disse ele, empurrando-a para o canto mais afastado da porta.
Flora tampou a respiração quando o barulho chegou aonde eles estavam, acompanhado de um grande clarão vermelho, que iluminou a cela inteira. Homens fortemente armados passaram pelo corredor, trazendo consigo o cheiro de sangue e incontáveis esferas flutuantes de fogo. Eles corriam bravamente, em direção aos salões do castelo, enfrentando e vencendo todos os carcereiros da masmorra e todos os guardas reais que encontrassem pelo caminho.
– Eu sempre disse a Fausto que a rota de fuga pela masmorra um dia poderia se tornar um front de batalha. Ele devia ter me ouvido... – Dimitri balançou a cabeça, decepcionado. – Ao menos, sabemos que ele não retirou sua esposa e filhos por aqui.
– O que vamos fazer, Dimitri?
– Vamos ter que encontrar outra saída.
– Mas e as pessoas do castelo? Precisamos fazer alguma coisa!
Centenas de soldados inimigos já haviam subido as escadas e o corredor estava vazio novamente. Agora o barulho vinha dos andares de cima do castelo, e a ele se somavam os gritos de mulheres e choros de crianças.
– Flora, seu irmão condenou essa cidade ao confiar nas pessoas erradas. Não há nada que possamos fazer. Temos que viver hoje para lutar amanhã.
O coração de Flora se espremeu e ela sentiu lágrimas de frustração escorrerem pelo rosto. Dimitri não queria ajudar, e o que ela poderia fazer sozinha, contra um exército inteiro? Ela permaneceu espremida a um canto da cela enquanto Dimitri passou o braço pelas grades e enfiou a adaga pela fechadura, na tentativa de arrombá-la. Mas, antes de ter êxito, ele recuou para dentro, empunhando a adaga em posição de combate.
Pelo som, inicialmente Flora imaginou que seria um grande animal selvagem. Um lobo, talvez. Vinha farejando pelo corredor, fazendo estardalhaço enquanto corria. Estava subindo, no mesmo sentido em que os demais soldados inimigos. Mas este era diferente, não trazia consigo esferas de fogo, e nem mesmo tochas comuns. Vinha no escuro, guiando- se apenas pelo olfato.
Quando se aproximou da porta da cela de Flora e Dimitri, a criatura estacou. Pela sombra que se formou na luz precária e difusa, Flora pôde ver que, na realidade, se tratava de um homem. Mas não era um homem comum. Sua postura era arqueada e a respiração, rápida e ruidosa. Diferente dos outros, que gritavam enquanto prosseguiam, de sua boca irrompia apenas um rosnado grave e animalesco. Não pretendia enfrentar o exército defensor, apenas ansiava por aniquilar uma presa. Era um homem com instinto selvagem, e sua voz pareceu um rugido quando farejou mais uma vez e falou:
– Matar Valaskes!
Flora sentiu um calafrio ao ouvir essas palavras e arriscou uma espiadela. Ele era muito mais alto do que Dimitri, e exibia músculos salientes. Suas feições eram indecifráveis, sob a barba mal-feita e as cicatrizes de batalha, marcadas em seu rosto. Suas roupas estavam em farrapos, mas ele não parecia se importar com isso.
BAM! Com um golpe, fez a porta estremecer.
– Flora, isso é um Furioso. A consciência dele é restrita a cumprir a ordem que recebeu. Aparentemente, o alvo deveria ser o seu irmão... – Dimitri soltou um riso de desgosto. – Fique atrás de mim. Eu vou atrasá-lo, e você corre.
Como sempre, Dimitri demonstrava sua valentia. Mas o que ele poderia fazer contra o gigante, usando apenas uma pequena adaga?
BAM! Antes, a grossa madeira da porta parecia intransponível. Agora, golpeada violentamente pelo guerreiro do exército inimigo, parecia que viria abaixo a qualquer momento. – Você lembra como foi trazida pra cá? Volte pelo mesmo caminho. Nos encontraremos no Salão dos Quadros. Flora estava paralisada. Ela olhava de Dimitri para o Furioso e se perguntava se seria capaz de correr dali. Seu coração estava aos saltos, e todo o seu corpo tremia. BAM! A porta finalmente cedeu, abrindo uma fenda bem no meio. O Furioso enfiou a manzorra pelo buraco, agarrou a madeira da borda e puxou-a para fora, a fim de abrir uma entrada maior. Ele chutou novamente a porta, arrancou mais alguns pedaços de madeira, quebrou, rasgou. E quanto mais a porta era destruída, melhor o Furioso podia ser visto. Escorria sangue de vários cortes em todo o seu corpo, mas ele não parecia sentir dor. Estava sempre em uma postura encurvada, como um animal pronto para dar o bote.
Mas Dimitri atacou primeiro. Assim que o Furioso se abaixou e meteu a cabeça pela porta, o príncipe de Datillion se adiantou rapidamente e, com um golpe certeiro, enfiou a adaga no olho dele. Apanhado de surpresa, o Furioso deu um passo para trás e levou a mão ao rosto.
– Agora! CORRA! – Dimitri gritou.
Subitamente, Flora deixou sua posição, esgueirou- se pelo espaço aberto entre a porta destruída e o Furioso, e fugiu pelo extenso corredor. Correu o mais rápido que pôde, e em seu caminho encontrou corpos, ainda em chamas, dos carcereiros do castelo.
Olhou para trás, vacilante, a tempo de ver o Furioso arrancar a adaga do olho e a jogar para longe. Imediatamente, Dimitri acometeu sobre ele, golpeando-o com as mãos nuas, mas o Furioso mal sentiu seus ataques, agarrou-o pela roupa e atirou-o para longe. Dimitri deu com as costas na pedra dura da parede, e escorregou até o chão. Rolou para o lado a tempo de escapar da arremetida do Furioso e reaver a adaga.
Interpondo-se entre Flora e o Furioso, Dimitri falou mais uma vez, com autoridade:
– Vá embora logo, Flora! Você só vai me atrapalhar.
Com pesar, Flora deu as costas e correu. Ainda lembrava o caminho até o Salão dos Quadros, e rumou naquela direção. Dimitri foi deixado sozinho na masmorra destruída e repleta de corpos carbonizados, armado apenas com uma pequena adaga e com uma grande coragem. Ele encarou o Furioso com serenidade e desafiou:
– Vamos ver quanto tempo você leva pra me matar.